Te deixo ir
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Por muito tempo me torturei com lembranças suas. Tudo me lembrava de você: o céu nublado; as tardes de domingo; os filmes românticos e até o ônibus perdido. As madrugadas se resumiam em me afogar em você. O meu coração já estava em pedaços, mas eu insistia em virar e revirar o que tinha sobrado. Parecia que eu gostava da tristeza. Parecia que eu não queria mais sair do luto. Eu andava pelas ruas imaginando como seria estar ali com você ao meu lado. Era lamentável que mesmo após tantos anos você ainda estivesse preso em mim.
Eu afastava as pessoas de perto de mim. Seu lugar estava guardado aqui dentro, mesmo sabendo que você jamais voltaria. Era como se você estivesse preso nas profundezas do meu eu. Por mais que os outros caras tentassem nunca íamos além daquela noite. Era meio que uma doença... Sim, era doentio.
Acendi meu cigarro naquela noite, sentei de frente para a varanda da sala... me pus pensar em silêncio. Não estava certo. Não era justo que eu vivesse de fantasmas. Começou aos pouquinhos, sabe? Eu realmente quis guardar os bons momentos, mas eu fiz mais... me apeguei a cada um deles. Meio irônico, não? Eu quem propus: "vamos seguir em frente, vamos nos dar outras chances com novas pessoas". Mas, por que eu não te deixava de vez? Por que eu me abatia ao lembrar que hoje não estamos mais juntos?
Pensei que fosse ser mais fácil, mas eu estava embriagada de você até a última gota do meu sangue. Meus olhos te procuravam pela multidão. E você, certamente, estava vivendo suas novas experiências... E eu agarrada na maldita garrafa de vodca, pensando na
As coisas não melhoravam, e eu não tive alternativa a não ser te matar dentro de mim. Tive que me entupir com os pequenos detalhes, que quando estamos apaixonados, simplesmente, esquecemos. Tive que me concentrar nos momentos infelizes que nós tivemos. Mas, além disso, tive que me desapegar do seu eu aprisionado em mim. Tive que encontrar uma rehab para minha embriaguez de você. Mesmo que meu coração me dissesse não, eu precisei te deixar ir de dentro de mim para poder viver.
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