Pra ela.

   Têm dias que tudo que eu quero é me enrolar nos lençóis e não sair da cama, têm dias que tudo que eu quero é colo, mas não é qualquer colo, era o melhor colo que eu poderia ter. Escrevo pouco sobre, porque pra mim não é fácil falar de alguém que não vai voltar mais. Ela era forte, batalhadora, uma guerreira, temperamento forte, mas a única que me amava apesar de tudo. Fez o possível e o impossível por mim. Eu nunca pude, nem cheguei a dizer "eu te amo", isso dói aqui dentro.

   Quando ela se foi meu mundo ficou em pedaços, eu fiquei arrasada, mas de forma alguma queria deixar transparecer, fui me fazendo de forte, mas eu no fundo queria mesmo era gritar, chorar e dizer "olha, eu não tô bem.". Nunca fui uma boa filha, esse é o remorso que sempre me acompanhará. Sinto que falhei, não fiz o que deveria ter feito. Muitas vezes parecia não me importar, e até fechava os olhos pras coisas. Eu sofria ao vê-la gritar de dor, mas eu sofria calada, tentando achar uma forma de não surtar e me desesperar. Pra mim ela sempre estaria aqui, e daí ela se foi... a sua alegria, o seu cheiro, a sua voz, as suas broncas, tudo se foi. Eu fiquei, fiquei com tudo pra mim. E pra muitos eu superei, talvez eu até tenha mesmo (graças ao meu bom Deus), mas só eu sei como me sinto quando tudo que eu mais quero é o carinho da minha mãe, carinho esse que NUNCA poderá ser substituído, que NUNCA será esquecido. Eu daria tudo pra tê-la aqui comigo, porque às vezes eu me vejo tão desprotegida, tão sozinha e lembro que quando ela estava por aqui eu estava sempre segura. Tive que amadurecer, fui obrigada. De repente, me vi só, tendo que fazer coisas que eu nem sabia como fazer, porque ela sempre estava por ali pra fazer. Tendo que assumir responsabilidades. Tive que ser forte e encarar tudo. Tive que aceitar os fatos... ela se foi, tinha chegado a hora. 

   Queria ter dito tantas coisas, eu não tive tempo de me despedir. Mesmo sabendo que a partida dela era inevitável eu nunca procurei dizer o que eu tenho guardado aqui dentro. Eu tinha 17 anos, e precisava tanto dela por aqui. Ainda preciso mesmo com quase 20. O tempo passou tão rápido, a ficha foi caindo lentamente, e não teve jeito. Saudade eu sinto, sempre irei sentir. Saudade sem explicação e sem comparação. 

   Hoje vejo que eu tinha tudo, mas não valorizei. 

A você meu amor eterno. Que um dia a gente possa se encontrar e eu possa te dizer "mãe, eu amo muito você, perdão por cada dor de cabeça e pela minha falta de afeto."